Voltar o olhar para as consequências do clima de disputa e polarização que tomou conta da sociedade brasileira é de extrema importância dentro do contexto escolar neste momento. As tensões, conflitos e ansiedades geradas precisam ser entendidas e trabalhadas pelos educadores. Mas, como ajudar as crianças a lidar com os sentimentos e gerar a capacidade de empatia às diferenças?
A primeira colocação que precisa ser feita refere-se a diferença entre discussão e diálogo. Certamente a energia dispendida nestas duas formas distintas de comunicação e relacionamento serve como modelo para as crianças, que tantas vezes mesmo sem compreender o todo, assumem posturas de admiração e apoio aos envolvidos. Então, em momentos descolados reproduzem estes comportamentos, que afinal, reconhecem como adequados. O que é preciso deixar claro, são as consequências da forma como nos comunicamos. É importante ensinar a criança a se expressar e também a ouvir e considerar a opinião alheia! Afinal, expressar a opinião é um direito e respeitar a diversidade é um dever!
Outra necessidade que se fez veemente nesses dias, foi ensinar a buscar argumentos em fontes fidedignas. Questionar quem disse, quem escreveu, quem contou, onde foi lido… é ensinar que a verdade pode ter muitas facetas, mas que precisam ser reveladas antes que formatemos nossa opinião. Em contrapartida, precisamos mostrar os prejuízos que a mentira traz, tanto individual como socialmente.
Algumas formas práticas têm se revelado como possibilidades eficazes de acolher e provocar reflexão nas crianças. Poderíamos começar falando da leitura de histórias infantis selecionadas para este momento. O Patinho Feio, Os Três Porquinhos, A Dona da Bola e a dona da História, A Princesa que Escolhia, O Reizinho Mandão… são alguns exemplos bastante diretos, que proporcionam boas conversas.
Para os maiorzinhos pode-se desenvolver algumas estratégias para ensinar além das aparências, ao trabalharmos a natureza, artes, ler noticiários diversos, jogos cooperativos e fundamentalmente o exemplo!
O momento pós eleições é rico e significativo para estas conversas. As crianças trazem o assunto a todo momento, contam o que ouvem em casa e querem saber a opinião dos seus amados professores. Numa de nossas rodas, depois de diversas crianças manifestarem os votos de seus pais e mães e suas possíveis aversões a partidos e candidatos, conversamos sobre planos de governo e partidos políticos. Criamos partidos fantasiosos para que as crianças compreendessem como é difícil votar. Um professor representava o PAA: partido das árvores e assembleias; uma professora era do PBCP: partido das bolas, conchas e pedras; e ainda uma outra representava o PP: partido dos passeios.
Antes que defendêssemos os nossos planos de governo, nos acusamos reciprocamente de roubos e mentiras bem simbólicos como:
– Eu soube que esse candidato aí entrou no refeitório da escola e roubou todas as maçãs.
– Pois eu queria era as sementes para plantar mais árvores! – Foi a defesa levantada.
– E essa candidata foi vista roubando pedras do lago das tartarugas.
– Mas eu conversei com as tartarugas e elas autorizaram.
– Como? E tartarugas agora falam?
Foi bonito ver como as crianças nos defendiam afirmando categoricamente a não possibilidade de mentirmos. E, quando cada professor apresentou o seu plano partidário, e perguntamos em qual partido e em qual candidato votariam, ouvimos de nossos meninos que queriam todas as ideias somadas e todas as pessoas juntas!
Em nossa escola celebramos a liberdade e coletividade, que se traduzem no direito de falar, ser, pensar e sentir de cada criança vinculados ao respeito à diversidade. Buscamos a promoção da cultura da paz através de diálogos, mediação de conflitos e não aceitação da violência.
Regina Pundek
Por uma educação que contribua para a formação de sujeitos pacíficos, amorosos, autônomos, respeitosos, empáticos, atuantes, pensantes, batalhadores, corajosos, lúcidos e decididos. Capazes de atuar no mundo de maneira crítica e sensível.
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